PAZ MUNDIAL e CORRETAS RELAÇÕES HUMANAS

Sarnath,Índia, 2010.

Uma apresentação do Prof. Humberto Barahona, Fundador do Instituto de Difusão Budista, durante a Conferência internacional pela Paz Mundial em Mandalay, Myanmar. Conferência convocada pelo "Sitagu International Buddhist Academy" desde o dia 22 até o dia 24 de Janeiro de 2016.

PAZ MUNDIAL E CORRETAS RELAÇÕES HUMANAS

"Os ódios aqui nunca acalmam-se as com o ódio. Mas com o amor acalmam-se as. Esta é uma lei antiga." -O Buddha

 

1.-A Luz da Ásia, Luz do Mundo: O Buddha.

O Senhor Buddha, sua experiência e ensinamentos, são através da história uma fonte poderosa de inspiração para todos aqueles que buscam a paz e praticam a não-violência. O Buda afirma que todos os seres humanos, compartilhamos o mesmo potencial espiritual e a partir dessa condição, a criação de corretas relações humanas, são a base indispensável para o desenvolvimento de uma verdadeira paz.

A situação mundial atual é crítica, é um momento da história que pode constituir uma oportunidade para a humanidade um grande passo para a frente no caminho do progresso espiritual e humano. A Cada dia cresce no mundo, a presença da luz, todos os cantos do planeta estão sendo conhecidos e estão sendo reveladas a cada momento todas as terríveis contradições humanas; pois nada pode ser escondido, por tempo indeterminado, ao conhecimento das pessoas da rua.

Para progredir para uma verdadeira paz mundial, é necessário que a consciência da humanidade, reconhecer que fazemos parte de uma única família sobre a Terra, e que a felicidade de alguns, depende da dos outros e que é o cultivo do sentido de cooperação e não de competição, o que nos torna verdadeiramente humanos e contribui para o estabelecimento de corretas relações humanas.

A relativa paz existente hoje no mundo é uma paz fictícia, porque está baseada no equilíbrio de ameaça entre uns e outros, está baseada no poder das armas e o controle econômico. Esta não é uma paz real. Estas não são corretas relações humanas.

2.- As religiões organizadas

Quero distinguir aqui entre o sentido religioso ou espiritual inato no ser humano, o sentido de universal, de frente para as instituições religiosas ou religiões organizadas. O sentido inato do religioso, do espiritual, nunca pode morrer e, de alguma forma, fala-nos de uma raiz comum, que se encontra no coração do ser humano. Todos os grandes mestres da Humanidade, como o Senhor Buddha, se têm referido a esse sentido profundo.

As organizações religiosas, que nascem para servir os outros, têm cedido terreno para as ambições humanas doentias e terminaram colocando maior ênfase no poder e no "ter", em que o "ser". Dedicamos quase toda a nossa energia para múltiplas atividades mundanas para sustentar grandes estruturas e deixamos de lado a contemplação, a simplicidade e o silêncio. Construímos grandes templos, mas nós abandonamos o único importante, a construção do ser humano.

As religiões organizadas e em nosso caso particular, o Buddhismo, seus grandes instituições, devem-se assegurar uma formação integral de seus estudantes, leigos e ordenados. Integral, no sentido de cultivar um olhar universal, para compreender os problemas fundamentais que hoje enfrenta a humanidade e os recursos que a partir de nossa formação como buddhistas, podemos oferecer para construir corretas relações humanas.

Também é nossa responsabilidade construir certas relações com todas as tradições religiosas universais e, em particular, construir certas relações entre as diferentes tradições buddhistas. Para isso, é indispensável que nos informemos de cada tradição espiritual, a partir de suas próprias fontes e expositores mais qualificados. O respeito só pode vir de conhecer o outro, de se interessar pelo outro. Infelizmente, muitas vezes ficamos imersos em nossa própria cultura, em nossos preconceitos, e não valorizamos os outros.

Os professores e mestres do Dhamma temos especial responsabilidade na construção de corretas relações humanas. Em nosso país, de cultura cristã e em todo o Ocidente, as instituições religiosas estão sendo questionadas por pessoas, a partir de graves transgressões éticas de autoridades religiosas, que tinham suas títulos de grande dignidade. Quando essas transgressões vêm de pessoas que têm sob sua responsabilidade a centenas de pessoas, é uma situação muito grave, devido a que danificam de forma quase irreparável a confiança pública, a confiança das pessoas comuns e correntes. Os títulos formais de dignidade no campo religioso, aumentam a nossa responsabilidade.

Na experiência de nosso pequeno país, o Chile, cerca de 17 milhões de habitantes, de tradição maioritariamente católica, gozamos de liberdade religiosa e já há várias décadas, existe um crescente interesse pelo pensamento do Buda, particularmente quando evita o dogmatismo, o teísmo, o fanatismo e a superstição, e não coloca ênfase em questões culturais locais. O ocidente exige receber o essencial da mensagem do Buddha, a nossa capacidade de ser livres.

Eu gostaria de propor a realização de seminários, encontros, retiros, entre os seguidores das diversas tradições buddhistas e em um âmbito maior, com os seguidores de outras concepções religiosas e estas devem ser realizadas em todas as regiões e continentes do mundo, não só na Ásia, não apenas no hemisfério norte.

Também é muito importante que estabelecer pontes com os diferentes aspectos da ciência e da tecnologia. São extremamente interessantes os projetos científicos relacionados com o estudo dos efeitos dos processos de meditação no cérebro como no comportamento emocional. Desta forma estaremos construindo corretas relações humanas, que são a base para a paz mundial.

3.- A Educação mundial

Os buddhistas e as organizações buddhistas devemos assumir a nossa responsabilidade para educar as pessoas no conhecimento da mente, o manejo das emoções, a análise em frente ao aglomerado de sensações e informações que enfrentam dia após dia, distraindo sua energia em fins inúteis e meramente egoístas. Devemos trabalhar para oferecer para as pessoas comuns e correntes os meios para desenvolver a capacidade de reflexão. Devemos estar disponíveis para oferecer o ponto de vista dos ensinamentos do Buddha, sem interesse de proselitismo ou doutrinação sectário.

Quantidades enormes de dinheiro são destinadas constantemente para atender às necessidades artificiais e um consumo excessivo. Devemos preparar-nos para ensinar às pessoas o significado e o poder do dinheiro. O poder que até a mais humilde das pessoas tem quando decide investir umas poucas moedas. Se muitos pudéssemos nos dar conta deste poder, poderíamos, sem dúvida, mudar o mundo para uma direção mais digna do ser humano, construindo, assim, corretas relações humanas, que são o preâmbulo da paz.

Como budistas, temos o dever de fornecer à população comum e corrente, as ferramentas da reflexão e da meditação, para que aprendam a discernir entre o que é importante, o que é direito e o que é supérfluo. Não podemos fingir que os outros, ou o Estado, se encarregue de nossas próprias responsabilidades. Não podemos esperar que seja o vizinho, ou o Governo de turno, que venha e regue a árvore que temos diante de nossa casa.

Os grandes centros e universidades buddhistas no mundo oriental, podem abrir-se também para o resto do mundo, para o Ocidente, mas não só para o ocidente rico, mas também para os países pobres ou em vias de desenvolvimento. Os expositores, professores e mestres qualificados do mundo buddhista, podem fazer uma contribuição vital para a humanidade, percorrendo o mundo. Mas o mais importante desta atividade, é olhar primeiro para a motivação profunda que nos move e cultivar constantemente uma atitude não-sectária, não proselitismo, não dogmática.

4.- Criação de corretas Relações humanas, o valor da Cooperação na sociedade e o acesso aos Recursos do planeta

O amor, a sabedoria transcendente e a ética são a base da mensagem de todos os mestres universais, como a do Senhor Buddha. E esta mensagem é tão vigente hoje, como tem sido por milhares de séculos. No entanto, os seres humanos, a humanidade como um todo, ainda estamos longe de poder compreender e fazer nossos na vida diária destes grandes princípios. Estes princípios exigem do desenvolvimento da reflexão. Este amor não é essencialmente um sentimento, mas de boa vontade prática, boa vontade em ação, expressando-se nas comunidades e nações por meio das pessoas. O amor do qual estamos falando está fundado na compreensão da interdependência de todos os fenômenos, a não-separatividad.

Como buddhistas, temos o formidável recurso do Nobre Óctuplo Caminho, todos os fatores necessários e suficientes para cultivar em nós e difundir os outros, as corretas relações humanas, que são o fundamento da paz mundial. Mas não precisamos fazer com que a humanidade se converta ao buddhismo, é necessário apenas apresentar esses princípios os outros em sua própria linguagem, para que, a partir de suas próprias convicções espirituais ou éticas, adiram à tarefa de criar corretas relações humanas no planeta.

Nos fizeram acreditar que o sentido de "competência" é o valor essencial na evolução humana, mas isso não é verdade. Finalmente, você vai ser o sentido de cooperação que poderá resolver os desafios mais sérios que já hoje começa a enfrentar a Humanidade.

No livro "Uma Ponte para Dois Olhares", vários cientistas reunidos com o Vêem. Tenzin Gyatso, especialmente os Drs. Robert Livingston e Francisco Varela, coincidem na deturpação histórica que se espalhou no Ocidente respeito dos estudos de charles Darwin sobre a evolução das espécies. Efetivamente, o Dr. Livingston afirma em alguns parágrafos:

 "Tenho a impressão de que esta evolução tem sido desnaturado, no Ocidente, pelo exagero das vantagens seletivas da competitividade e a combatividade. Darwin mais bem expressa um ponto de vista equilibrado, ressaltando a importância relativa da interdependência e da cooperação entre as espécies, comparadas com a agressividade e a competição. É útil refletir sobre a informação que nos dá a evolução sobre a cooperação e reconhecer em que medida o insistir exageradamente sobre a dimensão competitiva pode deformar nossas hipóteses."

Todo mundo quer segurança, bem-estar e relações pacíficas com os seus vizinhos e o mundo. Mas não pode haver paz até que as potências mundiais, em colaboração com as nações pequenas, tenham resolvido o problema econômico e tenham compreendido que os recursos da Terra não pertencem a nenhuma nação em particular, mas a toda a humanidade.

Hoje nos deparamos com o perigo crescente de corporações privadas transnacionais, com a cumplicidade dos governos, apoderando-se de todos os recursos básicos. Mesmo pretendem dominar o manuseio dos alimentos através da posse exclusiva de sementes de "propriedade privada". Este lindo planeta, cuja existência depende de fatores tão delicados como extraordinários no sistema do universo conhecido, é de todos os seres humanos e todos os seres viventes, sem exclusão de ninguém, por razão de raça, de religião ou ideologia.

5.- Os meios de comunicação

Sabemos que os meios de comunicação de massa, em todo o mundo, encontram-se maioritariamente em poder das corporações privadas, nacionais e internacionais, em função apenas de interesses materialistas, ou seja, em função do veneno da cobiça, que impede que a família humana cobrir as suas necessidades básicas.

Estou convencido de que a comunidade buddhista internacional tem os meios suficientes para a criação de uma plataforma de comunicação global, não-sectária, que ofereça às pessoas informação de valor positivo sobre todas as iniciativas ao redor do mundo que procuram desenvolver as corretas relações humanas. Uma plataforma que procure também as correspondências e valorize as iniciativas nesta mesma direção de outras confissões religiosas ou instituições não-religiosas que trabalham na mesma direção em que os diferentes campos da atividade humana.

6.- Conclusão geral

Estas propostas respondem à atual situação mundial e podem contribuir, através do cultivo de corretas relações humanas, a superar o estado de coisas que criamos a nós mesmos. De maneira nenhuma devemos avançar neste caminho, culpando, subvertendo ou atacando.

Os homens e mulheres inspirados nesta tarefa, milhões de pessoas espalhadas em diversos países, culturas e religiões se podem encontrar e planejar ações em comum, utilizando os meios tecnológicos modernos. Então essas pessoas e grupos podem situar-se entre os explorados e os exploradores, entre os traficantes de armas e os pacifistas, entre as massas e os seus dirigentes, sem promover perturbações políticas, nem religiosas impróprias, nem nutrir ódio.

Estabelecer e cultivar corretas relações humanas, são a base definitiva para o desenvolvimento de uma paz genuína e duradoura no mundo.***

Prof. Humberto Barahona